- Num ninho de mafagafos há sete mafagafinhos. Quando a mafagafa gafa, gafam os sete mafagafinhos.
- Trazei três pratos de trigo para três tigres tristes comerem.
- A aranha arranha a rã. A rã arranha a aranha. Nem a aranha arranha a rã. Nem a rã arranha a aranha.
- O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem, o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem o tempo que o tempo tem.
- Se percebeste, percebeste. Se não percebeste, faz que percebeste para que eu perceba que tu percebeste. Percebeste?
- O Rato roeu a rica roupa do rei de Roma! A rainha raivosa rasgou o resto e depois resolveu remendar!
- Em rápido rapto, um rápido rato raptou três ratos sem deixar rastros.
- O sabiá não sabia que o sábio sabia que o sabiá não sabia assobiar.
- Sabendo o que sei e sabendo o que sabes e o que não sabes e o que não sabemos, ambos saberemos se somos sábios, sabidos ou simplesmente saberemos se somos sabedores.
- Olha o sapo dentro do saco. O saco com o sapo dentro. O sapo batendo papo e o papo soltando o vento.
- A Iara agarra e amarra a rara arara de Araraquara.
- Fala, arara loura. A arara loura falará.
- Quem a paca cara compra, paca cara pagará.
- Bagre branco, branco bagre.
- A babá boba bebeu o leite do bebê.
- A mulher barbada tem barba boba babada e um barbado bobo todo babado!
- O que é que Cacá quer? Cacá quer caqui. Qual caqui que Cacá quer? Cacá quer qualquer caqui.
- Chega de cheiro de cera suja.
- Concluímos que chegamos à conclusão que não concluímos nada. Por isso, conclui-se que a conclusão será concluída, quando todas tiverem concluído que já é tempo de concluir uma conclusão.
- Um ninho de carrapatos, cheio de carrapatinhos, qual o bom carrapateador, que o descarrapateará?
- Quem era Hera? Hera era a mulher de Zeus.
- O desinquivincavacador das caravelarias desinquivincavacaria as cavidades que deveriam ser desinquivincavacadas.
- O doce perguntou pro doce qual é o doce mais doce que o doce de batata-doce. O doce respondeu pro doce que o doce mais doce que o doce de batata-doce é o doce de doce de batata-doce.
- O bispo de Constantinopla, é um bom desconstantinopolitanizador. Quem o desconstantinopolitanizar, um bom desconstantinopolitanizador será.
- Esta casa está ladrilhada, quem a desenladrilhará? O desenladrilhador. O desenladrilhador que a desenladrilhar, bom desenladrilhador será!
- O original não se desoriginaliza! O original não se desoriginaliza! O original não se desoriginaliza! Se desoriginalizásemo-lo original não seria!
- Fia, fio a fio , fino fio, frio a frio.
- Se o Faria batesse ao Faria o que faria o Faria ao Faria?
- Farofa feita com muita farinha fofa faz uma fofoca feia.
- Não sei se é fato ou se é fita. Não sei se é fita ou fato. O fato é que você me fita e fita mesmo de fato.
- A naja egípcia gigante age e reage hoje, já.
- Gato escondido com rabo de fora tá mais escondido que rabo escondido com gato de fora.
- La vem o velho Félix com o fole velho nas costas.
- Um limão, mil limões, um milhão de limões.
- Ao longe ululam cães lugubremente à Lua.
- Se a liga me ligasse, eu também ligava a liga. Mas a liga não me liga, eu também não ligo a liga.
- Maria-Mole é molenga. Se não é molenga, não é Maria-Mole. É coisa malemolente, nem mala, nem mola, nem Maria, nem mole.
- A vaca malhada foi molhada por outra vaca molhada e malhada.
- Os naturistas são naturalmente naturais por natureza.
- O padre pouca capa tem, porque pouca capa compra.
- Perto daquele ripado está palrando um pardal pardo.
- O princípio principal do príncipe principiava principalmente no princípio principesco da princesa.
- A pia perto do pinto, o pinto perto da pia. Quanto mais a pia pinga mais o pinto pia. A pia pinga, o pinto pia. Pinga a pia, pia o pinto. O pinto perto da pia, a pia perto do pinto.
- Há quatro quadros três e três quadros quatro. Sendo que quatro destes quadros são quadrados, um dos quadros quatro e três dos quadros três. Os três quadros que não são quadrados, são dois dos quadros quatro e um dos quadros três.
- Não confunda ornitorrinco com otorrinolaringologista, ornitorrinco com ornitologista, ornitologista com otorrinolaringologista, porque ornitorrinco, é ornitorrinco, ornitologista, é ornitologista, e otorrinolaringologista é otorrinolaringologista.
- Toco preto, porco fresco, corpo crespo.
- Se o Pedro é preto, o peito do Pedro é preto e o peito do pé do Pedro também é preto.
- Pedro pregou um prego na porta preta.
- Paulo Pereira Pinto Peixoto, pobre pintor português, pinta perfeitamente, portas, paredes e pias, por parco preço, patrão.
- Pedreiro da catedral, está aqui o padre Pedro? – Qual padre Pedro? – O padre Pedro Pires Pisco Pascoal. – Aqui na catedral tem três padres Pedros Pires Piscos Pascoais como em outras catedrais.
- Se o papa papasse papa, se o papa papasse pão, se o papa tudo papasse, seria um papa -papão.
- Disseram que na minha rua tem paralelepípedo feito de paralelogramos. Seis paralelogramos tem um paralelepípedo. Mil paralelepípedos tem uma paralelepipedovia. Uma paralelepipedovia tem mil paralelogramos. Então uma paralelepipedovia é uma paralelogramolândia?
- A rua de paralelepípedo é toda paralelepipedada.
- O Borges relojoeiro ruminara roendo raspas de raiz de romãzeira.
- Teto sujo, chão sujo.
- A vida é uma sucessiva sucessão de sucessões que se sucedem sucessivamente, sem suceder o sucesso.
- Fui caçar socó, cacei socó só, soquei socó no saco socando com um soco só.
- Caixa de graxa grossa de graça.
- Tecelão tece o tecido em sete sedas de Sião. Tem sido a seda tecida na sorte do tecelão.
- Uma trinca de trancas trancou Tancredo.
- Se cada um vai a casa de cada um é porque cada um quer que cada um vá lá. Porque se cada um não fosse a casa de cada um é porque cada um não queria que cada um fosse lá.
- Tem uma tatu-peba, com sete tatu-pebinha. Quem destatupebar ela, bom destatupebador será.
- Atrás da porta torta tem uma porca morta.
- Para ouvir o tique-taque, tique-taque, tique-taque. Depois que um tique toca é que se toca um taque.
- Se vaivém fosse e viesse, vaivém ia, mas como vaivém vai e não vem, vaivém não vai.
sexta-feira, 26 de maio de 2017
A VELHA CONTRABANDISTA
A VELHA CONTRABANDISTA
Stanislaw Ponte Preta
Diz que era uma velha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da Alfândega – tudo malandro velho – começou a desconfiar da velhinha.
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega a mandou parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim para ela:
- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que ela adquirira no dentista, e respondeu:
- É areia!
Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou que a velhinha fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora com o saco de areia atrás.
Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.
Diz que foi aí que o fiscal se chateou:
- Olha vovozinha, eu sou fiscal da Alfândega com 40 anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.
- Mas no saco só tem areia! – insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs:
- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não vou dar parte, não apreendo não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?
- O senhor promete que não “espaia”? – quis saber a velhinha.
- Juro – respondeu o fiscal.
- É lambreta.
Stanislaw Ponte Preta
Diz que era uma velha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da Alfândega – tudo malandro velho – começou a desconfiar da velhinha.
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega a mandou parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim para ela:
- Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que ela adquirira no dentista, e respondeu:
- É areia!
Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou que a velhinha fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora com o saco de areia atrás.
Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.
Diz que foi aí que o fiscal se chateou:
- Olha vovozinha, eu sou fiscal da Alfândega com 40 anos de serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista.
- Mas no saco só tem areia! – insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs:
- Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não vou dar parte, não apreendo não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?
- O senhor promete que não “espaia”? – quis saber a velhinha.
- Juro – respondeu o fiscal.
- É lambreta.
ADIVINHAS
ADIVINHAS
1.
O que é que é surdo e mudo, mas conta tudo?
2.
O que é o que é que sempre se quebra quando se fala?
3.
Ele é magro pra chuchu, tem dentes mas nunca come e
mesmo sem ter dinheiro, dá comida a quem tem fome?
4.
O que é o que é feito para andar e não anda?
5.
O que é o que é que dá muitas voltas e não sai do
lugar?
6.
O que é o que é que sobe quando a chuva desce?
7.
O que é? O que é? Que tem mais de 10 cabeças mas não
sabe pensar?
8.
O que é o que é que enche uma casa mas não enche uma
mão?
9.
O que a esfera disse para o cubo?
10.
O que é o que é que está sempre no meio da rua e de
pernas para o ar?
11.
O que é o que é que anda com os pés na cabeça?
12.
O que é que corre a casa inteira de depois vai
dormir num canto?
13.
O que é que quanto mais cresce, mais baixo fica?
14.
Qual é o céu que não possui estrelas?
15.
O que é que está na ponta final do fim, no início do meio e no meio do começo?
16.
É um pássaro brasileiro e seu nome de trás para
frente é igual.
17.
O que é, o que é? Quando estamos em pé, ele está
deitado. Mas quando estamos deitado, ele está em pé.
RESPOSTAS
1.
O livro.
2.
O segredo.
3.
O garfo.
4.
A rua.
5.
O relógio.
6.
O guarda-chuva.
7.
A caixa de fósforo.
8.
O botão.
9.
Deixa de ser quadrado.
10.
A letra U.
11.
O piolho.
12.
A vassoura.
13.
O rabo do cavalo.
14.
O céu da boca.
15.
A letra M.
16.
Arara.
17.
O pé.
TRAVALÍNGUAS
TRAVA-LÍNGUAS
O PEITO
DO PÉ DE PEDRO É PRETO.
O RATO
ROEU A RODA DA CARROÇA DO REI DE ROMA.
O RATO
ROEU A ROUPA DO REI DE ROMA.
SALMOURAS
SALGADAS SÓ SALGAM SALSICHAS.
UM TIGRE,
DOIS TIGRES, TRÊS TIGRES.
A ARANHA
ARRANHA A JARRA, A JARRA ARRANHA A ARANHA.
O PADRE
PEDRO TEM UM PRATO DE PRATA, O PRATO DE PRATA NÃO É DE PEDRO.
O PATO
PIPO TEM PATA E PAPO.
A BOLA DE
BETO BATEU NA BOCA DA BABÁ.
O BRINCO
DE BRUNA BRILHA.
A FACA
AFIADA FICAVA NO FUNDO DO FOGÃO.
COMPREI UMA
ARARA RARA EM ARARAGUARA.
FRUFRU
TOMO FRAPÊ DE FRUTA FRESCA.
ALFREDO FRITOU
O FRANGO NA FRIGIDEIRA.
A GRALHA
NA GRADE GRITOU COM O GRILO NA GRUTA.
O RECRUTA
NO RECREIO COMEU UM CROQUETE CROCANTE.
UM BIFE
DE CAÇAROLINHA NÃO É UM RIFLE DE CAÇAR ROLINHAS.
LUZIA
LUSTRAVA O LUSTRE LISTRADO.O LUSTRE LISTRADO LUZIA.
TRAVA O
TRINCO, TRAZ O TROCO.
TRÊS
PRATOS DE TRIGO PARA TRÊS TIGRES.
A CARTA E O ÍNDIO
A CARTA E O ÍNDIO
UM
FAZENDEIRO INCUBIU A UM ÍNDIO, AINDA NÃO TODO CIVILIZADO, QUE FOSSE LEVAR DEZ
BELAS FRUTAS A UM AMIGO. SOBRE ELAS COLOCOU UMA CARTA NO CAMINHO, O ÍNDIO TEVE
VONTADE DE COMER UMA DAS FRUTAS. E NÃO SE CONTEVE: COMEU-A!
AO
RECEBER O PRESENTE, O AMIGO DO FAZENDEIRO DISSE AO ÍNDIO:
-
VOCÊ COMEU UMA DAS FRUTAS?
-
EU?
-
SIM. ESTÁ FALTANDO UMA.
-
COMO É QUE O SENHOR SABE?
-
ORA ESSA! PELA CARTA.
O
ÍNDIO NÃO TINHA A MENOR IDÉIA DE COMO A GENTE PODE REGISTRAR AS IDÉIAS PELA
ESCRITA, E DESSE MODO TRANSMITÍ-LAS AOS OUTROS.
POR
ISSO, OLHOU COM ADMIRAÇÃO A FOLHA DE PAPEL QUE O OUTRO EXIBIA E DISSE:
-AH!
ISSO CONTA O QUE A GENTE FAZ? ... EU NÃO SABIA!
UMA
SEMANA DEPOIS O ÍNDIO FOI DE NOVO ENCARREGADO DE LEVAR UM CESTO DE FRUTAS AO
MESMO HOMEM. LEVARA TAMBÉM UMA CARTA.
NO
MEIO DO CAMINHO, POUSOU A CESTA NO CHÃO E, PEGANDO A CARTA, DISSE:
-
DEIXE ESTAR, BICHO MEXERIQUEIRO, CONTADOR DO QUE A GENTE FAZ! AGORA VOCÊ NÃO HÁ
DE VER O QUE EU VOU FAZER PARA CONTAR AOS OUTROS!
DITO
ISSO, SENTOU-SE SOBRE O ENVELOPE. COMEU TRÊS DAS FRUTAS E ATIROU AS CASCAS E OS
CAROÇOS. ENTÃO LEVANTOU-SE PÔS A CARTA NO LUGAR, E CONTINUOU NO CAMINHO.
MAS
COITADO! MAL CHEGA À CASA DO AMIGO DO FAZENDEIRO, O MESMO LHE PERGUNTA:
-
MAS ENTÃO ESTAVAM BOAS AS FRUTAS?
-NÃO
SEI, NÀO SENHOR!
-COMO
NÃO SABE? POIS NÃO COMEU TRÊS DELAS?
VENDO-SE
APANHADO EM FALTA, O ÍDIO, MUITO SEM JEITO CONFESSOU:
-COMI,
SIM SENHOR! O SENHOR ME DESCULPE... MAS... EU SÓ QUERIA SABER COMO FOI QUE
O SENHOR DESCOBRIU...
-
É BOA! PELA CARTA!
-
NÃO PODE SER, NÃO SENHOR! O SENHOR ESTÁ BRINCANDO COMIGO, PORQUE DESTA VEZ EU
SENTEI EM CIMA DELA E ELA NÀO VIU NADA.
O HOMEM
SORRIU DAQUELA SIMPLICIDADE, E O ÍNDIO PÔS-SE A PENSAR NO CASO. EMBORA NÃO TUDO
PERFEITAMENTE COMEÇOU A PERCEBER QUE OS SINAIS ESCRITOS DEVERIAM SERVIR PARA
TRANSMITIR UM RECADO.
FRANCISCO VIANA, ADAPTAÇÃO DE ALTINO MARTINEZ
A PEQUENA VENDEDORA DE FÓSFOROS
A Pequena Vendedora de Fósforos
(Hans
Christian Andersen)
Fazia um frio terrível; caía a neve e estava quase
escuro; a noite descia: a última noite do ano.
Em meio ao frio e à escuridão uma pobre menininha,
de pés no chão e cabeça descoberta, caminhava pelas ruas.
Quando saiu de casa trazia chinelos; mas de nada
adiantavam, eram chinelos tão grandes para seus pequenos pezinhos, eram os
antigos chinelos de sua mãe.
A menininha os perdera quando escorregara na
estrada, onde duas carruagens passaram terrivelmente depressa, sacolejando.
Um dos chinelos não mais foi encontrado, e um
menino se apoderara do outro e fugira correndo.
Depois disso a menininha caminhou de pés nus - já
vermelhos e roxos de frio.
Dentro de um velho avental carregava alguns
fósforos, e um feixinho deles na mão.
Ninguém lhe comprara nenhum naquele dia, e ela não
ganhara sequer um níquel.
Tremendo de frio e fome, lá ia quase de rastos a
pobre menina, verdadeira imagem da miséria!
Os flocos de neve lhe cobriam os longos cabelos,
que lhe caíam sobre o pescoço em lindos cachos; mas agora ela não pensava
nisso.
Luzes brilhavam em todas as janelas, e enchia o ar
um delicioso cheiro de ganso assado, pois era véspera de Ano-Novo.
Sim: nisso ela pensava!
Numa esquina formada por duas casas, uma das quais
avançava mais que a outra, a menininha ficou sentada; levantara os pés, mas
sentia um frio ainda maior.
Não ousava voltar para casa sem vender sequer um
fósforo e, portanto sem levar um único tostão.
O pai naturalmente a espancaria e, além disso, em
casa fazia frio, pois nada tinham como abrigo, exceto um telhado onde o vento
assobiava através das frinchas maiores, tapadas com palha e trapos.
Suas
mãozinhas estavam duras de frio.
Ah! bem
que um fósforo lhe faria bem, se ela pudesse tirar só um do embrulho, riscá-lo
na parede e aquecer as mãos à sua luz!
Tirou
um: trec! O fósforo lançou faíscas, acendeu-se.
Era uma
cálida chama luminosa; parecia uma vela pequenina quando ela o abrigou na mão
em concha...
Que luz
maravilhosa!
Com
aquela chama acesa a menininha imaginava que estava sentada diante de um grande
fogão polido, com lustrosa base de cobre, assim como a coifa.
Como o
fogo ardia! Como era confortável!
Mas a
pequenina chama se apagou, o fogão desapareceu, e ficaram-lhe na mão apenas os
restos do fósforo queimado.
Riscou
um segundo fósforo.
Ele
ardeu, e quando a sua luz caiu em cheio na parede ela se tornou transparente
como um véu de gaze, e a menininha pôde enxergar a sala do outro lado. Na mesa
se estendia uma toalha branca como a neve e sobre ela havia um brilhante
serviço de jantar. O ganso assado fumegava maravilhosamente, recheado de maçãs
e ameixas pretas. Ainda mais maravilhoso era ver o ganso saltar da travessa e
sair bamboleando em sua direção, com a faca e o garfo espetados no peito!
Então o
fósforo se apagou, deixando à sua frente apenas a parede áspera, úmida e fria.
Acendeu
outro fósforo, e se viu sentada debaixo de uma linda árvore de Natal. Era maior
e mais enfeitada do que a árvore que tinha visto pela porta de vidro do rico
negociante. Milhares de velas ardiam nos verdes ramos, e cartões coloridos,
iguais aos que se veem nas papelarias, estavam voltados para ela. A menininha
espichou a mão para os cartões, mas nisso o fósforo apagou-se. As luzes do
Natal subiam mais altas. Ela as via como se fossem estrelas no céu: uma delas
caiu, formando um longo rastilho de fogo.
"Alguém
está morrendo", pensou a menininha, pois sua vovozinha, a única pessoa que
amara e que agora estava morta, lhe dissera que quando uma estrela cala, uma
alma subia para Deus.
Ela
riscou outro fósforo na parede; ele se acendeu e, à sua luz, a avozinha da
menina apareceu clara e luminosa, muito linda e terna.
- Vovó!
- exclamou a criança.
- Oh!
leva-me contigo!
Sei que
desaparecerás quando o fósforo se apagar!
Dissipar-te-ás,
como as cálidas chamas do fogo, a comida fumegante e a grande e maravilhosa
árvore de Natal!
E
rapidamente acendeu todo o feixe de fósforos, pois queria reter diante da vista
sua querida vovó. E os fósforos brilhavam com tanto fulgor que iluminavam mais
que a luz do dia. Sua avó nunca lhe parecera grande e tão bela. Tornou a
menininha nos braços, e ambas voaram em luminosidade e alegria acima da terra,
subindo cada vez mais alto para onde não havia frio nem fome nem preocupações -
subindo para Deus.
Mas na
esquina das duas casas, encostada na parede, ficou sentada a pobre menininha de
rosadas faces e boca sorridente, que a morte enregelara na derradeira noite do
ano velho.
O sol
do novo ano se levantou sobre um pequeno cadáver.
A
criança lá ficou, paralisada, um feixe inteiro de fósforos queimados. - Queria
aquecer-se - diziam os passantes.
Porém, ninguém imaginava como era belo o que
estavam vendo, nem a glória para onde ela se fora com a avó e a felicidade que
sentia no dia do Ano Novo.